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Marx e a ecologia contra o projeto ecofascista do capitalismo (e 3,coda)

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Em memória de Bruno Latour

A pandemia por coronavirus lembrou-nos, severamente, que somos seres constituídos em bases biológicas. Enquanto os mapas da NASA mostravam a queda dramática nos níveis de dióxido de nitrogênio consistentes com o momento das medidas de restrição da atividade pandêmica, também assistimos à fraca mobilização de líderes e empresas para lidar com a desaceleração da economia. O ponto de partida da análise marxista não são os indivíduos otimizando o consumo de determinados bens, como é adoito, mas os indivíduos que trabalham em associação, gastando sua força de trabalho para gerar os bens que lhes permitem reproduzir a força de trabalho. E este é o conteúdo último do trabalho abstrato; é o gasto humano de energia, osos e músculos. Mas isso é impossível se o pressuposto for o indivíduo despossuído dos meios de produzir, alienado e submetido ao mercado e ao Estado. É um condicionamento físico e fisiológico, pois uma sociedade de produtores não pode consumir mais energia para trabalhar do que a reposição energética de sua força de trabalho total que permite o consumo dos bens que produz. Com certeça, as maneiras polas quais os seres humanos equalizam seus gastos de energia e comparam os tempos de produção mudam historicamente, à medida que as relações sociais de produção mudam. No entanto, essas formas não eliminam o feito de que a despesa humana de energia constitui a substância de todo trabalho. A afirmação de que o conteúdo do trabalho abstrato é o gasto de energia humana, entendido no sentido fisiológico, vai contra a abordagem dominante na teoria social crítica, que fixo questão de separar nitidamente as sociedades humanas dos outros seres vivos; e da separação do ser humano de sua base biológica (o conceito de “metabolismo universal da natureza”, no entanto, di Marx). Transformamos a natureza por meio da produção, mas não o fazemos como queremos, mas nas condições herdadas do passado, da história natural e social, e continuamos a depender da dinâmica básica da vida e da existência material. Nunca se deve supor que a humanidade realmente exista completamente independente da “natureza”, ou fora dela; ou mesmo que hoje a natureza exista completamente independente ou não afetada pola humanidade.

Na Critical Human Ecology que combina os pontos fortes da tradição da ecologia humana biofísica na sociologia ambiental com os do materialismo histórico,  afirma-se que na teoria social crítica há uma tendência a negar o papel do ambiente biofísico nas sociedades humanas. Reconhecer as restrições materiais que condicionam o ser humano não precisa ser sinônimo de naturalização das relações sociais, como moitas vezes se pensa no espaço da sociologia crítica. Os teóricos sociais críticos concentram-se principalmente nos feitores culturais ao estudar as sociedades, ignorando que existem restrições materiais que atravessam a história, e que a produção e reprodução material – as trocas materiais entre as sociedades e seus ambientes – constituem a base de toda a vida social. Essa abordagem materialista parece inevitável na análise da crise em desenvolvimento à abordagem sociológica dominante, idealista e antropocêntrica e impele-nos a um defesa da perspectiva materialista de Marx e Engels. Assim, York e Mancus afirmam que “os limites naturais não podem ser superados polo mero acúmulo de conhecimento cultural. Em última análise, uma vez que os seres humanos são entidades biológicas, as sociedades humanas são limitadas por moitos dos mesmos princípios ecológicos e termodinâmicos que moderam o crescimento e a reprodução de outras espécies.” 11

As noções ecológicas em O capital, têm sido frequentemente ignoradas. Como di Harvey, Marx parece ter deixado de lado na sua crítica ao capital  as questões da economia mundial e do metabolismo universal da natureza mas não é menos verdade que no final de sua vida encontramos Marx preocupado que as mudanças nas isotermas associadas às mudanças climáticas em eras geológicas anteriores levaram às grandes extinções na história da Terra. É essa mudança nas isotérmicas que  o climatologista  Hansen considera a principal ameaça que a flora e a fauna enfrentam hoje como resultado do aquecimento global, com as isotermas se movendo em direção aos pólos mais rapidamente do que as espécies.12 Outro exemplo dessa profunda preocupação com as ciências naturais é o interesse de Marx nas palestras de John Tyndall na Royal Institution sobre os experimentos que ele estava realizando sobre a inter-relação da radiação solar e vários gases na determinação do clima da Terra. Além disso, a  “concepção ecológica” de Marx em certos aspectos foi necessariamente corporificada de forma indiferenciada e abstrata, sem poder atingir o nível da totalidade concreta. Isso porque havia uma quantidade aparentemente infinita de textos científicos para explorar e analisar antes que fosse possível discutir as mediações distintivas e históricas associadas à dialética co-evolucionária da natureza e da sociedade.Froito das discussões sobre o ecossocialismo no final de século que  culpavam Marx por não desenvolver concepções ecológicas, em 2000, Bellamy Foster publicou Marx’s Ecology: Materialism and Nature para mostrar que a concepção marxista do materialismo era moito mais profunda e mais interconectada com as formas ecológicas de pensar do que os pensadores marxistas tinham entendido anteriormente. Com base na abordagem lukacsiana do metabolismo social em Marx, István Mészáros observa que a “estrutura conceitual” da teoria da alienação de Marx implicava a relação triádica humanidade-produção-natureza, onde a produção constituía uma forma de mediação entre humanidade e natureza. Dessa forma, os seres humanos poderiam ser concebidos como os seres “automediadores” da natureza13. Consequentemente, não deveria ser surpresa que foi Mészáros quem apresentou a primeira crítica marxista abrangente da emergente crise ecológica planetária em seu discurso do Prêmio Deutscher de 1971, publicado um ano antes do estudo do Clube de Roma sobre Limites do Crescimento. Em Além do capital,  desenvolverá ainda mais esse tema em relação a uma crítica completa do metabolismo social alienado do capital, incluindo seus efeitos ecológicos, em sua discussão sobre “a ativação dos limites absolutos do capital” associada à “destruição do capital”  das condições de reprodução sociometabólica, o que permitiu uma abordagem baseada na práxis que integra natureza e sociedade, história social e história natural, sem reduzir totalmente uma à outra.

Mas Fellamy Foster não estava sozinho ja que, Kohei Saito alargou ainda mais essa linha de pesquisa com Karl Marx´s Ecosocialism, postulando assim a recuperação de seu materialismo ecológico ou se quiserem, o seu materialismo ontológico ou a sua dialética da natureza da que a tradição filosófica marxista ocidental se afastara para  relacionar a  “concepção materialista da história”  dialeticamente com a “concepção materialista da natureza” das ciências naturais. As concepções ecológicas de Marx surgiram do seu profundo materialismo e como isso se relacionava com o desenvolvimento do materialismo de seu tempo, incluindo Darwin e o seu interesse de juventude na filosofia epicurista da natureza. Em 2005, Clark e York publicaram o artigo “Carbon Metabolism: Global Capitalism, Climate Change, and the Biosphere Rift” que aplicou a análise de Marx da fratura metabólica às mudanças climáticas. Como Malm colocou em The Progress of This Storm(2018): “Desde a virada do milênio, uma linha de investigação marxista sobre problemas ambientais superou todas as outras em criatividade e produtividade: a teoria da fenda metabólica… Qualquer marxismo ecológico do século XXI século necessariamente está sobre as [suas] costas”12 É importante pór aqui  em destaque que a teoria da fratura metabólica em Marx, como é comumente exposta, é uma teoria da crise ecológica, da fratura daquilo que para ele era a dependência permanente da sociedade humana em relação às suas condições de vida e existência, existência orgânica. Isso representava, em sua opinião, uma contradição insuperável, associada à produção capitalista de mercadorias, cujas implicações plenas, porém, só podem ser compreendidas com uma teoria mais ampla, a do metabolismo entre natureza e sociedade.

O trabalho humano e o processo de produção foram definidos por Marx como “o metabolismo social” que mediava a relação entre a humanidade e o que ele chamava de “metabolismo universal da natureza” (Foster, J. B. (1999). O vínculo formado entre trabalho e capital sob o capitalismo industrial repousa sobre os ombros da natureza.14 Quer dizer, que não poderia haver concepção materialista da história divorciada da concepção materialista da natureza, nem a sociedade humana completamente divorciada da natureza material da qual é uma forma emergente. Nos seus derradeiros anos, Marx aumentou em vez de diminuir seus estudos das ciências naturais, como é evidente em seus cadernos científicos de fasquia ecológica, agora publicados como parte do projeto Marx-EngelsGesamtausgabe(MEGA).
Como Saito aponta em seu Karl Marx´s Ecosocialism, , no Volume 1 do Capital , Marx repetiu a afirmação de que a química agrícola de Liebig era mais importante neste assunto “do que todos os trabalhos dos economistas políticos modernos juntos” (isto é, o lado destrutivo da agricultura moderna: não apenas o solo está sujeito a mudanças, mas que a produção capitalista tende a destruir o solo, contribuindo para todo o problema da fratura metabólica.) É preciso destacar que , indo além de seus estudos sobre a Rússia, quão importante foi para Marx a evolução histórica dos modos de produção ao longo de sua vida. Isso contribuiu para sua crescente crítica ao colonialismo a partir da década dos 60, levando-o a buscar respostas diferentes, aprendendo o máximo que podia sobre formações sociais não capitalistas e não ocidentais. Com Darwin e a descoberta da Cova de Brixam, o tempo histórico subitamente se alongou em dezenas de milhares de anos.Mais do que uma abordagem rígida linear, supra-histórica ou teleológica que sempre rejeitou,  sua análise exigia compreender a diversidade das formas humanas de apropriação social ou modos de produção, que também se relacionavam com o presente e o futuro da história humana, pois o novo sempre surgiu do velho. Moito desse trabalho foi associado ao seu crescente reconhecimento das loitas anticoloniais das sociedades indígenas. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Brasil incorpórao á sua praxis.15

Para os críticos do capitalismo, esse tipo de salto – duma generalização vagamente plausível sobre a natureza humana para uma afirmação sobre a necessidade de todo um sistema de relações sociais – sempre pareceu precipitado demais. Uma cousa é admitir que as pessoas às vezes agem e pensam de acordo com os princípios do mercado, mas outra bem diferente é afirmar que as pessoas sempre estruturaram sua sociedade em torno dessa lógica.O que distingue o capitalismo da mera atividade de mercado é que a sociedade capitalista é uma sociedade na qual as relações sociais são “integradas à economia” e não “a economia é integrada às relações sociais”. O que ele quixo dizer com isso é que não podemos explicar a complexidade do modo de produção capitalista simplesmente a partir de um conjunto de possíveis motivos e desejos humanos. O que distingue o capitalismo não é simplesmente a tendência humana à propriedade privada e à troca como Smith, o grande teórico do capitalismo primitivo, apontou em A Riqueza das Nações, mas que as pessoas são forçadas a governar toda a sua vida de jeito transacional e comercial.O capitalismo é um determinismo segundo o qual uma certa tendência da natureza humana triunfou.Esse determinismo naturalizado ignora o feito de que, como tem dito Marx, “os homens fazem sua própria história”. Sem essa visão, não só o socialismo, mas qualquer tentativa de defender a ideia de que os seres humanos podem ter qualquer controle sobre seu destino está condenada. Hegel reconheceu que uma sociabilidade baseada principalmente nas relações de mercado minava as interações humanas genuinamente igualitárias, uma ideia retomada por Marx em sua noção de alienação. Em vez de servir como meio para o desenvolvimento da individualidade, embotou a subjetividade humana. Trabalho sob o capitalismo, escreveu Hegel, torna-se ainda mais entediante (…) a capacidade do indivíduo torna-se infinitamente mais limitada, e a consciência dos trabalhadores da fábrica é reduzida à completa apatia.”

O capitalismo foi transformado dum sistema em que os mercados são ‘livres’ de intervenção para um sistema em que as empresas são subsidiadas polo Estado. A ameaça existencial da mudança climática já está exigindo uma ação ainda maior liderada pola Estado no mercado.Nas crises recentes, o Estado tomou as medidas necessárias porque políticos de todos os matizes acreditavam que não tinham escolha a não ser gastar moito, salvar empresas, empregos e sociedades. Na última, no entanto, moitos líderes políticos ainda acreditam que têm escolhas. A maioria reconhece que a mudança climática exige ações maciças lideradas pola Estado, nacional e multilateralmente. Mas eles temem que os investimentos públicos necessários em escala, os novos regimes regulatórios e os novos impostos necessários para nos levar à transição para o carbono zero os tirem do poder.Os conservadores opõem-se à mudança e querem que as cousas permaneçam as mesmas. No clima, no entanto, a inação significa que as cousas não permanecerão as mesmas, mas mudarão radicalmente – para pior. Assim, os  conservadores buliaram para unir-se aos social-democratas e verdes para acelerar supostamente as ações necessárias para reparar o ecossistema. Os governos não estão conseguindo cumprir metas que já são inadequadas.E mesmo quando parecem enfrentá-lo, encontramos o ecofascismo como “novo regime climático”. Sem ir mais longe entre os milhares de exemplos possíveis velaí o suposto governo social-democrata de Pedro Sánchez propôs subsídios de transição para as energias renováveis ​​com um aumento de 17,9% mais  o crescimento em armas é do 69%, uma das indústrias mais poluentes (o Complexo Industrial Militar recebe passe livre apesar de causar 6% de todas as emissões globais)

No entanto, as ações de todos os políticos no enfrentamento das crises bancárias, do Covid-19 e de energia mostram o que pode ser feito polos governos. A economia atual é uma economia mista onde no âmbito das instituições existentes o Estado e o setor privado são profundamente, simbioticamente, interdependentes.. O grande tamanho do estado de hoje seica é necessário para a vida e os negócios modernos, mas também não nos propusemos após a queda da URSS, diga-se, a tentar fazê-lo fora desse Estado, trabalhando em formas de sensibilização, reflexão e construção dos rudimentos das futuras instituições da sociedade actual, para além de tentativas especulativas ou projetos inseridos neste mundo (agás por algumas tentativas do Sul Global), não no mundo que gostaríamos de imaginar. O que mudou é que grandes partes do sistema de mercado tornaram-se, por períodos, quase totalmente dependentes do Estado. A crença da ex-primeira-ministra do Reino Unido Margaret Thatcher de que o setor privado deve ser dominante e o público dependente não foi desafiada e, de feito,  foi reafirmada  polos respostas dos governos a essas três crises e polo sucesso das corporaçoes em utilizar o Estado para salvar o setor privado conforme apropriado  para o momento.  Todo isso sem a participação, consulta ou deliberação dos governados.

Moitos regimes, mesmo anticapitalistas, se alinharam por trás do produtivismo. Em questões ecológicas, os governos progressistas  em América sempre insistem que os países do Norte tiveram sua chance e agora devem reduzir sua qualidade de vida para que podam seguir o mesmo caminho. O modelo que propõem é o duma vida digna, mas não deixa de ser uma vida capitalista. E aqui há um grande problema: o direito à destruição não existe, ou não deveria existir diante da óbvia catástrofe ambiental que estamos vivenciando. Se realmente queremos descolonizar imaginários, talvez seja urgente começar por desmistificar a ideologia produtivista do “crescimento” infelizmente compartilhada por grande parte da esquerda. O caso de Marx merece uma menção à parte já que o seu interesse  nas relações entre a natureza e a economia e no conceito de  metabolismo social (ou produção human como forma de mediação entre humanidade/sociedade e o metabolismo universal da natureza) alicerça nos avanços científicos de seu tempo. Que Marx não era um ecologista é óbvio porque a ecologia como uma ciência (biológica) dedicada a estudar as reações entre os seres vivos e o meio ambiente foi desenvolvida, como outros epistemes, no decorrer do século XIX enquanto ciência, ideologia e política. Mas ele foi um pioneiro em descrever e analisar a ruptura entre humanos e natureza, que é o que observamos com maior perspectiva no presente a partir das evidências fornecidas por diversas ciências sobre a degradação da ordem socioambiental que o capitalismo prometeico produziu em um processo sem precedentes de mercadorização e mercantilização da Natureza. Quer dizer,  a lei do valor de Marx, supostamente relações sociais capitalistas,  integra necessariamente a questão ecológica. Marx tem dito repetidamente que  “a terra pode exercer a ação dum agente de produção na dum valor de uso, dum produto material, digamos o trigo. Mas não tem nada a ver produção de valor do trigo.  A natureza é necessária para a produção de valor, é uma riqueza, mas imensurável que  qualquer valor econômico. “A natureza não tem valor econômico intrínseco, pois a categoria valor não pertence à ordem natural, é de ordem socioantropológica.”Os economistas, os de ontem e os de hoje, geralmente tendem a pensar dentro de quadros analíticos e conceituais que se definem a partir da busca da maximização do crescimento econômico.No entanto, as correntes e escolas de pensamento econômico têm ignorado em sua maioria, tanto em seus fundamentos metodológicos quanto em suas propostas de políticas públicas, a conexão entre a atividade produtiva de seu e os fundamentos naturais em que está inserida e os que  precisar.Na primeira década do nosso século, Georgescu-Rogen foi um dos primeiros a notar as graves deficiências das formas tradicionais de pensar a economia. Em particular, destacou a ausência de modelos econômicos no que diz respeito ao consumo de energia e materiais, apontando para a necessidade de repensar a ideia de que o crescimento econômico ilimitado sempre é tecnicamente possível graças à tecnologia e ao setor industrial.

Um dos principais problemas dessa estrutura de limites planetários é que concebe o metabolismo social de maneira essencialmente técnica. Se a análise não for estendida, o quadro parece atribuir a responsabilidade a noções abstratas como “humanidade” ou “ser humano”, quando é evidente que nem as causas nem as consequências do impacto ecológico estão distribuídas simetricamente tanto ao longo do estrutura de classes entre diferentes regiões geográficas. Como afirma Brand, não há crise ecológica global que signifique a mesma cousa para todos os seres humanos, por isso é moito mais apropriado falar de crise ecossocial, pois permite destacar a importância das relações sociopolíticas na avaliação dos processos ambientais  degradação ambiental e endereçamento de suas soluções.16

Como já apontamos acima, o ideal moderno de dominação da natureza levou a uma noção positiva de produtivismo ligado à ciência e ao chamado progresso técnico (“ideologia do progresso linear” e “o paradigma tecnológico e econômico da civilização industrial”)  pois até o início do século XX o crescimento da produção material seria fundamental para o bem-estar da humanidade. É lugar-comum dizer sem reservas que Marx considerava que o desenvolvimento das forças produtivas era positivo em si mesmo, vendo na natureza um objeto a ser dominado  e instrumentalizado através da produtividade, sem levar em conta os prejuízos que a ação humana poderia causar ao meio ambiente e mesmo ignorando o papel da natureza na teoria do valor-trabalho.  Jean-Marie Harribey rebate a tese segundo a qual Marx teria sido incapaz de perceber que a natureza tinha um papel fundamental na criação da riqueza, ao inferir que Marx, ao distinguir entre riqueza e valor sem  importar qual seja o modo de produção, o homem produz riqueza com o objetivo de satisfazer suas necessidades . Harribey lembra que “O trabalho não é fonte de toda a riqueza. A natureza é a fonte dos valores de uso[…] tanto quanto o é o trabalho , que é apenas a exteriorização duma força natural, da força de trabalho humano”17.

Portanto, sem a natureza o homem não pode produzir, nem em termos físicos, nem em termos de valor econômico. Mas, ao mesmo tempo, adverte que não é a natureza que produz valor de seu e este é o grande paradoxo  incompreensível fora da crítica marxiana da economia política.Para Harribey “a lei do valor, como relação social, não expressa um projeto normativo, mas propõe uma problemática analítica crítica. Portanto, a pergunta “Marx, produtivista ou ecologista?” por um lado talvez desdramatizado, ou seja, menos binarizado e, por outro lado, recontextualizado, historicizado. O trabalho não era para Marx simplesmente a extensão dos poderes humanos sobre a natureza inorgânica, mas um processo de transformação de energia no qual os seres humanos eram dependentes de condições materiais e/ou ecológicas mais amplas. Portanto, para além de todo determinismo biológico ou de qualquer negação banal do papel das formas sociais, da cultura e da ideologia, o que vale é a reflexividade crítica, reconhecendo a agência humana, e um ponto de vista materialista e científico, enfatizando o caráter objetivo do trabalho social em co- evolução com a dinâmica cambiante da existência corporal, estão no centro do método de Marx e Engels

Os desafios a serem superados na União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial e na Guerra Fria, uma corrida armamentista que exigira a cópia burocrática do modelo produtivista de exploração e dominação capitalista, avançando de forma desenfreada do centro à periferia conforme o padrão ditado pola sistema-mundo capitalista, a simplificação dogmática do marxismo evolucionista vulgar, e sempre acompanhado por danos ao meio ambiente ao ditado a consumir cada vez mais para fazer rodar a produção. Uma ferramenta geopolítica, a economia de crescimento de acumulação de capital que logo se espalhou globalmente do capitalismo de mercado para o produtivismo centralmente planejado. Sabe-se que é no processo de trabalho que o ser humano, para colmar as suas  necessidades, transforma a natureza e, transformando-a, transforma-se, criando novas formas de produção e reprodução social. Porém, o capitalismo aliena os humanos da natureza.  no sentido avançado nos Manuscritos de 1844 : “A natureza é o corpo inorgânico do homem, a saber, a natureza enquanto ela mesma não é corpo humano. O homem vive da natureza significa: a natureza é o seu corpo, com o qual ele tem de ficar num processo contínuo para não morrer. Que a vida física e mental do homem está interconectada com a natureza não tem outro sentido senão que a natureza está interconectada consigo mesma, pois o homem é uma parte da natureza”. No Capital, acrescenta: “E todo progresso da agricultura capitalista é um progresso na arte de saquear não só o trabalhador, mas também o solo, pois cada progresso alcançado no aumento da fertilidade do solo por certo período é ao mesmo tempo um progresso no esgotamento das fontes duradouras dessa fertilidade” . De onde podemos deduzir que a indústria e a agricultura capitalistas exploram quer a força do trabalho, entendida como a força natural do homem, quer a força natural do solo.

Daniel Bensaïd, em seu “Marx, Manual de Instruções”, dedica um capítulo para a temática ecológica cujo título é: “Porque Marx não é nem um anjo verde, nem um demônio produtivista”. A perspectiva ecológica dificilmente era plausível no s.XIX como um conjunto de processos em nível ambiental que, cada vez mais, afetam nosso futuro como humanidade, embora o Marx prometeico não aderiu sem reservas às “ilusões do progresso”, não teria sido totalmente cego aos efeitos negativos do desenvolvimento em si, da tecnologia e das forças produtivas, embora o  “produtivismo” não possuía no início do século XX, o sentido pejorativo que acabou alcançando na medida em que seus reflexos foram sendo sentidos, o marxismo acabou preso de simplificação dogmática20. Como campo para explicar toda a sociedade de seu tempo,  na “Crítica do programa de Gotha” Marx acha que “O trabalho não é fonte de toda a riqueza. A natureza é a fonte dos valores de uso[…] tanto quanto o é o trabalho , que é apenas a exteriorização duma força natural, da força de trabalho humana”. Ainda bem que Marx teria apolado para a responsabilidade ambiental intergeracional :

“[…] mesmo uma sociedade inteira, uma nação, enfim, todas as sociedades contemporâneas tomadas em conjunto, não são proprietárias da terra. Elas são apenas ocupantes, usufrutuárias e devem, como bons paters famílias, deixá-las em melhor estado para as futuras gerações” 21

Assim, ultrapassando o espírito prometeico e “produtivista” desenvolvido em vários rascunhos de O Capital, Marx retomou a ideia sugerida anteriormente  nos Manuscritos de 1844 , ao teimar aí na ideia de que o comunismo é “a verdadeira solução do conflito entre o homem e a natureza”.  A sociedade livre da propriedade privada é, então, “a realização da unidade da essência humana com a natureza, a verdadeira ressurreição da natureza, o naturalismo consumado do homem e o humanismo consumado da natureza”. Seja como for, a reprodução das condições de existência do homem passa pola sua relação com a natureza.

“A essência humana da natureza existe inicialmente apenas para o homem social; porque é só aí que a natureza é para ele um vínculo com o homem, é aí que ele vive para o outro e o outro para ele, é aí que ela é o fundamento de sua própria existência humana e o sangue vital da realidade humana. É somente lá que sua vida natural é sua vida humana. A sociedade é a unidade essencial e perfeita do homem com a natureza, a verdadeira ressurreição da natureza, o naturalismo consumado do homem e o humanismo consumado da natureza. […] A natureza, tal como se faz na história – ato de gênese da sociedade humana – é a natureza real do homem; embora de forma alienada, torna-se, pola indústria, a verdadeira natureza antropológica.”22

Justamente por isso, o marxismo se constitui como uma referência necessária para compreender tanto as crises do capitalismo quanto a crise ambiental no contexto do capitalismo, já que a chamada “crise climática” não é um dado externo, independente da lógica de funcionamento do sistema, mas resultado dum processo que, como afirmou Marx, explora e esgota tanto o trabalhador quanto a natureza. Segundo Michael Lówy “é impossível pensar uma ecologia crítica à altura dos desafios contemporâneos sem levar em conta a crítica marxiana da economia política […]”. E acrescenta: “Uma ecologia que ignore ou despreze o marxismo e a crítica do fetichismo da mercadoria é condenada a ser apenas um corretivo dos ‘excessos’ do produtivismo capitalista” 23 . Não é por acaso que foi Löwy quem reivindicou, entre todos os pensadores marxistas do seu tempo, o pensamento presmonitório quanto pessimista de Walter Benjamin que rejeita as doutrinas do progresso inevitável como precursor do pensamento ecosocialista.

Lá onde não parecem tão evidentes, sob cobertura formal das democracias liberais colocadas em cujo núcleo se reproduz a conversão da social-democracia ao social-liberalismo, o seu apoio incondicional à construção da Europa e sua submissão não menos incondicional à hegemonia economico-miliar norte-americana, bem poderia acubilhar, se necessário, a nova extrema direita -como de facto tem estado acontecendo por toda a parte- como multiplicador de risco gerado polo colonialismo inveterado. Pois as reparações coloniais nunca foram realizadas, além da crítica cultural e da  moralizadora retórica multiculturalista, que permitiria a sério a sua reconceitualização e a sua articulação em meio à vasta e aparentemente intratável rede de causas e efeitos complexos quanto adversos que define a crise climática tendo em consideração as origens históricas do sistema de acumulação capitalista  e os resultados da luta de classes. Quer dizer, tornou-se inevitável a  compreensão materialista do capitalismo e do imperialismo que permita desafiar a teoría social eurocêntrica. Organizações como o FMI e o Banco Mundial ajudaram a impulsionar a agenda imperialista, embora o modo de vida imperialista, segundo Ulrich Brand e Markus Wissen, não seja uniforme e não afete todos os habitantes dos países mais ricos, mas é globalmente onipresente nas estruturas de distribuição de recursos, infraestrutura e lucros. As elites do Norte e do Sul globais vivem um modo de vida  sem limites, enquanto os trabalhadores de cada país vivem em conflito, mas é um sistema que integra até os excluídos e empobrecidos, de modo que se vive o “modo de vida imperial” pescando no Atlántico Sul num barco do Norte, bebendo um cafè no Starbucks, consumindo produtos fabricados na China, etc. São as más condições de trabalho das pessoas que produzem os iPads, que trabalham para a Amazon ou na indústria militar, na exploração da natureza.

O pescador africano enrolado nos arrastreiros galegos está excluído do  que Brand e Wissen chamam “modo de vida imperial”, mas ao explorar a natureza ele também quer viver – e até certo ponto vive – no modo de vida imperial.  O fordismo do pós-guerra, com sua grande aceleração no uso de recursos para produzir novos produtos de consumo – carros, casas e mercadorias diversas – foi um pacto entre capital e trabalho, e foi assim mesmo nos países do Sul e do Norte periférico. Por exemplo, a estructura económica em Galiza apesar de ser uma economia moito mais mista que há décadas e não ser  puramente extractivista, subsiste uma lógica extrativista maior do que em nosso ambiente europeu por ter a pesca de arrastre um grande peso. Não é apenas uma atividade econômica, mas uma estrutura social de relações de classe, gênero e de colonialismo interno espanhol, ligado a um imaginário de progresso, crescimento e desenvolvimento que está ligado ao extrativismo imperial de há séculos. Em outras palavras, , não é nem um pouco cínico opor-se abertamente ao extrativismo  e não vermos o outro lado da moeda na América Latina e na África? Uma saída pode ser manter elevados padrões ecológicos e sociais na União Europeia e a nível mundial, mas, igualmente importante, que esses padrões sejam negociados com os habitantes locais e não com as corporações e multinacionais. Aqui queremos resistir a uma dinâmica ecoimperialista que prevalece em todas as discussões sobre sustentabilidade, cuja base moral é a individualização da responsabilidade: que o consumidor pode fazer a diferença se consumir mais verde. Obviamente, é uma linha de pensamento totalmente neoliberal, que o simples  consumidor pode fornecer o modelo de sujeito político, adaptado ao projeto em curso de modernização ecológica do capitalismo.

A emergência do clima cria contradições dentro das velhas classes, como é mostrado no conflito da veda á pesca de fondo: uma situação s em que pessoas que estavam unidas pola noção de classe social agora se encontram desunidas pola questão ambiental. Essas tensões aparecem quando priorizamos a habitabilidade e a sustentatibilidade sobre a produção. O exemplo da pesca de arrastre de fondo com todas essas pessoas que defendem o emprego ao invés da preservação dum viveiro a mais de 400 metros de profundidade. A pesca de baixura, a mais artesanal e mas selectiva, apresenta-se então como inspiraçao para alcançar a “boa vida” e para  construir pontes entre  ecologistas e trabalhadores do comum  que se preocupam com seu território e o seu mar e os tornam habitáveis. Não fazemos parte do mesmo mundo se o único objectivo consiste em pescar o maior número possível de especies numa maré, ou se estamos interessados ​​nas ligações que tem pescar em águas profundas peixes adultos que produzirão milhões de descendentes pelágicos que virão para a costa como plâncton  etc… E nas questões de regulação, que é o caso de moitos pequenos pescadores de baixura. Neste último caso, podem-se aproximar bastante de uma visão ecológica de habitabilidade.

Mesmo assumindo a impossibilidade para qualquer teoria da ciência social captar totalmente a realidade de maneira imparcial  e descartando a arrogante presunção de que os países em desenvolvimento estão simplesmente num ‘estágio’ anterior do desenvolvimento capitalista e, com o tempo, alcançarão a Europa (“modernização da pobreza” e  da violência repressiva, formas de controle político das massas, sujeição ao modelo neoliberal globalizado e o desenvolvimento do lumpen que o acompanha).  Do mesmo jeito, é preciso lembrar que os eurocêntricos marxismo e anarquismo poderiam fornecer críticas ao próprio eurocentrismo. Justamente porque que o ambientalismo não é trivial quando relaciona a luta contra as mudanças climáticas com a luta contra a pobreza ou a luta pola justiça racial, é necessário colocá-lo na mesa sem hesitação: a crise do clima e a sua resposta eurocêntrica disfarça a verdadeira natureza do sistema capitalista, incluindo o papel do imperialismo, o hiper-produtivismo e o racismo. Os centros de poder do Norte sabem moi bem disso, que para atingir o nível atual de desenvolvimento e bem-estar poluírom e poluem causando a extinção de inúmeras espécies, esgotando recursos não renováveis, inventando guerras e aniquilando por séculos sem mostrar moito interesse polos povos que foram prejudicados em seu desenvolvimento (emigrações em massa, fomes, etc.). Se é urgente lidar com os limites ecológicos, resta também aprofundar as formas democráticas que permitam enfrentá-los e as propostas não são todas iguais sob esse ponto de vista. Dentro das próprias ciências sociais, nem todos os paradigmas são igualmente indiferentes aos vivos: apesar de certos limites, os paradigmas do dom e do cuidado – que certamente não são dominantes – permitem sublinhar as interdependências. Sem um desafio fundamental ao capitalismo, ao colonialismo e ao patriarcado, os planos de “atacar” e “nos defender” das mudanças climáticas irão sobrecarregar a própria dinâmica que fomentou a crise, reproduzindo os sistemas de dano e violência que sustentam a acumulação de capital no ‘paraíso do trabalhador branco’. É em resposta a essa série de crises interconectadas que moitos  grupos lutam para reproduzir a vida contra o capital projetando a política a partir de irreversibilidades. O desafio desses movimentos é claro: através da luta de classes, devemos sonhar e construir coletivamente uma visão alternativa ao colonialismo, ao capitalismo e ao patriarcado. Desistir de confiar em velhas soluções filosóficas, técnicas e políticas; intervir no cerne da política, abrindo o espaço público e envolvendo a consideração dos não-humanos.

Se é urgente lidar com os limites ecológicos, resta também aprofundar as formas democráticas que permitam enfrentá-los e as propostas não são todas iguais sob esse ponto de vista.

São poucas as vezes em que se questiona se o capitalismo, em que vivemos, é um sistema que funciona. Dado o elogio imensurável do livre mercado, a exploração ilimitada de pessoas e recursos naturais, pode ser necessário questionar para quem o capitalismo “funciona bem”. Se queremos acabar com a pobreza e garantir que todas as pessoas tenham acesso aos recursos de que precisam para viver bem, devemos mudar a estrutura da economia global. Em vez de esconder-se das realidades do desafio que enfrentamos, precisamos repensar o trabalho, incluindo formas remuneradas e não remuneradas, e como nossa sociedade atual impede tantas pessoas de ter um trabalho significativo e uma conexão com a comunidade, entendemos que isso envolveria, trazendo-o à tona, a descolonização e a soberania dos povos; desmercantilizar a vida e o trabalho e coordenando o trabalho de restauração e cuidado que deve substituir a exploração e a extração; democratizar a forma do Estado devolvendo a governança democrática às  nações às comunidades; e descarbonizar nossas sociedades por meio da busca determinada e coletiva desses objetivos. Juntamente com um compromisso com a justiça climática e o internacionalismo, esses princípios fornecem uma rubrica para debatermos as políticas específicas que permitiriam que comunidades em todo o globo recuperarem suas vidas do capitalismo. Saudosos da chamada era de ouro do capitalismo, ecofascistas e ecologistas afoutos pensam falsamente na natureza como algo inerentemente virtuoso ao qual retornar.

Enfrentar essa violência requer considerar o papel da escassez – não uma teoria da conspiração, mas um sistema moito real da extrema desigualdade e destruição ecológica. A resposta à urgência climática e ao colapso carrega em si a visão de futuro do trabalho e das relações sociais que nossa sociedade deseja: uma que coloca o trabalhador em regimes ainda mais precarizados ou aquela que assegura condições justas para uma vida digna. A continuidade da estrutura econômica de acumulação de capital continua sendo a chave para  iniciativas como Fridays For Future (FFF) e Extinction Rebellion (XR) , que solicita ações urgentes para defender uma série de ‘acordos’ ambientais, como o ‘Green Deal’ da Comissão Europeia (CE) Comissão, 2019 ), a Conferência das Nações Unidas  sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) ‘Global Green New Deal’ (2019 ) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) ‘New Deal for Nature’ , como o alvo de organizar a sociedade para se adequar a esse “novo” capitalismo verde. Por outro lado, parte da necessária concorrência das grandes corporações que atuam à margem dos ditames das democracias liberais localizadas em cuja estrutura normativa utilizarão através da produção de consenso (Chomsky), propaganda e censura com o objetivo de fazer sua proposta disciplinar, chegando ao ponto de posar como defensores da liberdade e da democracia quando for o caso, pois com as novas coordenadas não será necessário acabar com o direito ao voto – embora não devamos descartar sua sempre temível vocação golpista ou para inocular o medo ( sob o pretexto da gestão de  pandemias, despojamento da ordem jurídica, drenagem empresarial do público..), entronizar o individualismo extremo e anular o que resta da soberania popular. Ativação, en fim, do que Agamben chama de estado de exceção permanente quando as elites percebem certas dissensões.

A direita e o anarcocapitalismo defendem o capitalismo como um sistema exigido pola natureza humana isolada. Naturalmente, esse indivíduo isolado é uma invenção, pois o tempo que gera essa ideia de indivíduo isolado é justamente aquela em que as relações sociais atingiram seu maior grau de desenvolvimento até hoje. O homem é, no sentido mais literal, um animal político, não apenas um animal social, mas um animal que só pode ser individualizado na sociedade.24 O simples produtor de mercadorias (isto é, o proprietário de seus meios de produção) é um ser social. E isso é ainda mais verdadeiro para os indivíduos que pertencem à classe capitalista ou à classe trabalhadora. São, necessariamente, portadores de relações sociais e não podem ser pensados ​​fora delas. O mercado surgiu de condições históricas específicas, não é algo intrínseco à nossa espécie, o capitalismo cria uma forma de sociabilidade fundamentalmente anti-social: em vez de permitir que nossas interações sociais sejam mutuamente benéficas,  coloca os seres humanos em competição uns com os outro . Se as formas sociais, as relações de poder, a lógica do crescimento e da competitividade não forem questionadas – porque sempre se afirma que a crise ecológica deve ser tratada com crescimento e competitividade – se essas lógicas forem mantidas, não resolveremos nenhum problema. A invasão da Ucrânia pola Rússia e a gestao da pandemia pola Covid-19, no entanto, fixo perceber o quão dependentes dos combustíveis fósseis ainda somos na Europa. Científicos ecológicos usaram a perspectiva teórica da análise de Marx da fenda metabólica para estudar as contradições capitalistas que se desenrolam em uma ampla variedade de áreas: fronteiras planetárias, metabolismo do carbono, solo, produção de fertilizantes, metabolismo oceânico , a exploração indiscriminada da pesca, o desmatamento, o uso de incêndios florestais, os ciclos hidrológicos, a megamineração a céu aberto, a pecuária, os agrocombustíveis, a apropriação de terras em todo o mundo e a contradição entre a cidade e o campo…Porque se isso não acontecer, os trabalhadores vão defender seus empregos até o fim, e ninguém pode negar-lhes esse direito. Devemos ser moi  claros sobre o que queremos dizer quando falamos duma transição justa. É todo menos simples, é pensarmos um modo de vida baseado na solidariedade e em mútua colaboração .Todos eles dilemas que se perdem de vista e só se pensa em uma sequência modernização-crescimento-progresso, que pode até contemplar um crescimento um tanto alternativo, mas sem questionar as lógicas dominantes. Típico de todos esses ‘acordos’ são as reivindicações de coordenação e organização das partes interessadas, fazendo com que a sociedade civil e o governo trabalhem com, ou mais precisamente para, a ‘indústria’, com promessas de crescimento econômico, empregos e estabilidade climática.

Com a necessidade de mudanças rápidas reconhecida, a escala massiva da intervenção estatal no mercado de energia mostra que podemos acelerar com sucesso o caminho para a economia de carbono zero. De feito, o conceito de ‘ transição justa’  tornou-se amplamente aceito na UE como parte da nova narrativa política. Porém, o papel dos mercados de formação de preços, corporações e capitalismo não estão em questão. Em um partido que se autodenomina comunista ou socialista, que lugar ocupam os elementos ecossocialistas? Como promover uma transição climática e outras políticas energéticas baseadas em políticas populares. Mudar o eixo da política industrial do país, fomentando outras pescas e agricultura, tudo isso implica uma luta feroz com as grandes armadoras extractivista e com o capital. Decrescimento – a delimitação de zonas, fechamentos e rupturas – para continuar com o exemplo da pesca, libertando-nos do imperativo capitalista de crescer, que tem a ver com as relações de classe, propriedade e poder. A mudança que nos oferecem agora é de austeridade, precarização e desemprego, mas já sabemos que não é uma alternativa. A mudança não pode cair nas costas dos marinheiros ou doutros trabalhadores. Decrescimento – a delimitação de zonas, fechamentos e períodos de descanso – para continuar com o exemplo da pesca, libertando-nos do imperativo capitalista de crescer, que tem a ver com as relações de classe, propriedade e poder.

Excurso: Borrell o jardineiro

Neste caso, a UE deve fornecer respostas, e nao precisamente as fornecidas polo principal diplomata da UE, Josep Borrell Fontelles, que chamou a Europa de “um jardim” e o mundo de “uma selva”: “The gardeners have to go to the jungle. Europeans have to be much more engaged with the rest of the world. Otherwise, the rest of the world will invade us, by different ways and means.25. Eis o ecofascismo, neocolonialismo e racismo enquanto a UE tenta angariar apoio no mundo em “desenvolvimento” mas diferenciando entre “as leis da selva e as leis da razão”. Essa analogia estetizante é pungente, talvez tirada diretamente de Robert Kagan quando afirma “Americans and Europeans are today divided by a philosophical, even metaphysical disagreement over where exactly mankind stands on the continuum between the laws of the jungle and the laws of reason” 26.  Especialmente quando levamos em consideração a fenda metabólica. Numa economia  capitalista  o “jardim” (um jardim construído a partir da pilhagem colonial) é a  segunda natureza  assumindo uma forma alienada, dominada polo valor de troca, levando a uma fenda nesse metabolismo universal, ao ver a proximidade com a natureza como uma falta de civilidade, portanto, uma falta de humanidade. Todo isso enquanto o ecofascismo corporativo esconde a sua brutalidade na destruição de todo o que existe fora de sua “civilidade” habilitada pola violência. Assim como Kagan, então, Borrell enfatiza tanto a autoevidência – quanto a permanência – do estado de “guerra global”. Aos olhos de ambos, a “guerra ao terror” não é simplesmente o produto de políticas específicas adotadas polo governo Biden, como antes Bush e agora claramente pola UE, mas sim “a forma como o mundo é”. Operando em conjunto com a evocação da naturalidade e inevitabilidade do conflito, é um argumento  poderoso. Dentro dessa trajetória, são  a UE de braço dado dos Estados Unidos que se destacam como farol e modelo – e mão amiga para aqueles estados que ainda precisam fazer a “transição” para uma compreensão adequada do mundo de hoje; que ainda não foram “iluminados”. Borrell pensa em si mesmo como um jardineiro, mas ele realmente age com o discurso do colonizador e do açougueiro. Moito poderia ser dito sobre o reducionismo grosseiro da representação de Borrell do (suposto) ideal kantiano europeu como um projeto de ‘governo mundial’, marcado pola presunção de estender ao resto do mundo o modelo de ‘união’ agora realizado em Europa. No pensamento do neoconservador Kagan (semelhante aos que surgiram nos anos desde o fim da Guerra Fria, mais notavelmente a tese do “Fim da História” de Fukuyama), a divisão kantiana-hobbesiana tem sido repetidamente invocada como um descritor de diferenças de opinião transatlânticas. Colocado de forma mais crua, os europeus, presos num “paraíso” kantiano, são existencialmente incapazes de entender as realidades da política externa dos EUA, que é forçada a operar num mundo hobbesiano (o Hobbes invocado em tais leituras é  parcial e provavelmente, teria visto as atuais estratégias dos EUA  e da OTAN como parte do problema). Uma nova cartografia de poder e medo que ilustra uma nova e extremamente perturbadora imaginação geográfica: uma geografia que é ao mesmo tempo uma descrição do mundo de hoje – e uma prescrição para sua “única” ordenação adequada. Na raiz, as teorizações de Kagan  invocadas por Borrell clamam por uma geopolítica de divisão; uma geopolítica de absolutos e certezas guiada não polo direito internacional, mas polo messiánico “direito moral”. A guerra hobbesiana “de todo homem contra todo homem”; a “inclinação geral da humanidade” como “um desejo perpétuo e inquieto de poder após poder, que só cessa na morte”; a vida no estado de natureza (forda do “jardim”) é “solitária, pobre, desagradável, brutal e curta”. Todo isso fica moi longe de entrar num paraíso pós-histórico de paz e relativa prosperidade, a realização da “Paz Perpétua” de Kant. O papel de ‘xerife’ global ou ‘criador de regras’ global”, incluindo o direito à ação preventiva; também reivindica o direito – o direito exclusivo – à teoria, e à teoria espacial em particular. Dentro dessas duas imaginações, os Estados Unidos, os seus parceiros e o braço  armado (OTAN) permanecem como o único estado capaz de perceber adequadamente – e, portanto, mapear adequadamente – o mundo “selvagem” e perigoso de hoje. O lamentável exercicio de ventriloquista de Borrell é que as ações da UE não correspondem ao “idealismo” kantiano que Kagan lhe imputa a Eurpoa ( auto-imagem alterada), esse suposto apego às leis e normas internacionais e seu fracasso em reconfirmar o “novo” e “necessário”  papel mundial americano em um condição de segurança global transformada. Isso é, ainda por cima, que não conseguiu reconhecer que o mundo está “em guerra” e a necessidade de redefinir a Europa e a parceria transatlântica respondendo a uma necessidade moito mais ampla de redefinir o papel dos aliados e alianças no novo temperamento global. Que atual ‘estado de emergência’, marcado por ameaças ilimitadas e onipresentes, exigiria medidas que vão além dos procedimentos estabelecidos.

A UE deve fornecer respostas, e nao precisamente as fornecidas polo principal diplomata da UE, Josep Borrell Fontelles, que chamou a Europa de “um jardim” e o mundo de “uma selva”. Ecofascismo, neocolonialismo e  racismo enquanto a UE tenta angariar apoio no Sul Global.

 

Coda.O que vem depois do liberalismo?Este ex-curso final serviu-nos de baliza de como as relações internacionais são retratadas como sustentadas por um conjunto de dados não negociáveis. Critérios absolutos que não se prestam à política, ao diálogo, consulta e compromisso. Aqueles que não se enquadram na moral reconfigurada panorama das relações internacionais, aqueles que não respondem ao ‘call of duty’, são acusadas de todo, desde a complacência, ‘waffling’ e falta de determinação ao ‘relativismo moral’ até mesmo endossar os apologistas de Putin.  E quando na nossa contorna o partido mais progressista da história adica-se a minar o que resta da social-democracia europeia determinado a lançar-se em direção à catástrofe climática nas mãos do amigo americano, principal destruidor na sua corrida armamentista. Moito disso aconteceu nos últimos 40 anos de regime do 78 como parte do ataque atlantista e neoliberal do qual os grandes parceiros que nos governam vao de braço dado do poder corporativo e do núcleo duro dos herdeiros do franquismo.

O livro de Matthew Rose Um mundo depois do liberalismo começa com uma pergunta incômoda: “o que vem depois do liberalismo?”. É desconfortável porque efetivamente nos obriga a imaginar uma sociedade diferente, com regras diferentes e, sobretudo, com valores diferentes. É possível uma sociedade diferente daquela governada por valores liberais como igualdade perante a lei, liberdades garantidas, tolerância e estado de direito? Os ideólogos da nova direita na França, nos anos 60, acreditavam que sim. Eles levantaram um racismo cultural baseado em uma identidade imaculada supostamente ameaçada pola imigração. Argumentaram que a igualdade não era natural e não deveria ser priorizada e colocam o tradicionalismo como o norte de todas as decisões políticas. A narrativa da recem eleita Meloni e  dos direitos radicais concorda com essas premissas. Sob essa visao do mundo, o desafio climático e de matérias primas é uma chance de determinar  o que temos em mãos, para que servem nossas vidas e como queremos viver juntos,  desde que passaram a fazer parte do conjunto de dados não negociáveis. Em tal compreensão do mundo, ambiguidade, negociação, de feito, a própria política é um perigo tão grande para a visão de mundo neoconservadora baseado em absolutos como o ‘mal’ a ser combatido. O ecocapitalismo com atributos fascistas parece inescapável, assim como o direito divino dos reis,  a escravidão ou o principio das mulheres como propriedade. Marx, entre outros, mostra-nos o que  implica a relação  humanidade-produção-natureza, a ligação entre as devastações da Terra e as injustiças sociais, onde a produção constitui uma forma de mediação entre humanidade e natureza e dessa forma, como “automediadores” da natureza, reconhecermos  não  só o presságios desencorajadores mas como a destruição climática que se acelera desde várias instâncias é consubstancial ao metabolismo social alienado do capital e da qual não podemos escapar sem uma mudança substancial no modelo social e produtivo.

O ecofascismo corporativo e estatal mantém a esperança de que seremos capazes de encontrar maneiras de neutralizar essas tendências  prejudiciais e destrutivas das quais falamos. Porém, as únicas ferramentas disponíveis são as de sempre, as do otimismo da vontade: educação,  organização e mídia independente

Não sabemos com quem loitar, mas não há outro vieiro que tentar reviver um movimento trabalhista internacional do tipo que, no passado, estava na vanguarda dos movimentos por justiça social, ajuda mutua e autodeterminação dos povos. O ecoanarquismo e o ecossocialismo, informado pola feminismo socialista e pola teoria decolonial, olha para as relações homem-natureza para iniciar esta tarefa.  Precisamos de articulações adicionais e mais completas desse tipo de solidariedade-na-diferença viva para a multiplicidade de maneiras polas quais interagimos e interdependemos através de variadas redes. As respostas têm sido facetadas, desde a resposta de déconnexion de Samir Amin à crise e, mais claramente, a teoria do “endocolonialismo” de Aimé Césaire (a ideia de que o fascismo é constituído pola uso das tecnologias do colonialismo nos próprios estados colonizadores), a ecologia alimentada por uma visão não apocalíptica do Bruno Latour o ecoimperalismo de Driessen (em que o ambientalismo ocidental impõe critérios das economias localizadas no Norte aos povos do Sul) e as epistemologias do Sul de Sousa Santos, a  Ecologia Humana Crítica que combina os pontos fortes da tradição da ecologia humana biofísica na sociologia ambiental com os do materialismo histórico rompendo assim com o idealismo do marxismo ocidental, a abordagem decolonialista do decrescimento de Latouche e o ecoanarquismo  de Taibo, a fractura metabólica de Bellamy-Foster, até o comunismo hermenêutico de Vattimo/Zabala, entre outras articulaçoes que nos permitem enxergar uma realidade  de cabeça para baixo que reivindica o crescimento econômico e o ecoimperalismo como a solução, não a causa, das mudanças climáticas induzidas polo homem e desprovido de qualquer consideração com camadas inteiras da população mundial.

Em tempos de escassez, quando através do fenômeno atual do ecofascismo nos é mostrado que a loita de classes nunca termina, que os amos nunca cedem é ainda preciso pergunar-nos se o  homem é um lobo para o homem. Enquanto é naturalmente egoísta e pode dar vazão aos seus instintos mais básicos na primeira escassez, o homem quanto individuo não é o único culpado. Como é conhecido, Marx visa o sistema que deve ser mudado como uma crítica completa do metabolismo social alienado do capital, aquele que consiste em querer “economizar”, “capitalizar”, superproduzir…até o colapso metabólico final. A abordagem de cima para baixo em que se atualiza o velho ditado de que as empresas e os mercados o resolvem com otimismo, inovação, saúde, oportunidades, prosperidade…

Causa pasmo a distância entre a vontade ecológica, apresentada com moitos conceitos e slogans atraentes, e a realidade de paises como Qatar que continua sendo o maior poluidor do mundo em termos de CO2 per capita. O que Zygmunt Bauman identificou como uma formidável maquinaria para a produção de indiferença e deslegitimação moral ou  o chamado greenwashing que é poderoso disolvente de toda reflexividade crítica. Em 25 de abril, a Comissão Europeia apresentou seu “roteiro” para eliminar os produtos químicos mais perigosos para a saúde e o meio ambiente dos produtos de consumo até 2030. Aclamada como a promessa de uma “revolução” , essa reforma sem precedentes está prestes a ser enterrada .Neste início de outono, a Comissão Europeia vai caminho de enterrar o plano de proibição de substâncias tóxicas para a saúde e o meio ambiente. A tão esperada revisão do regulamento Reach, alizerce da estratégia de poluição zero do Pacto Ecológico Europeu, foi adiada para o final de 2023, comprometendo a sua adoção sob a legislatura de Ursula von der Leyen. Pudemos verificar mais uma vez como os lobbies da indústria química venceram.  No entanto, a linguagem continua a ser distorcida: é chamado de Pacto Verde Europeu.

Os relatórios de cientistas sobre o aquecimento global são cada vez mais alarmantes, e nós contemporâneos estamo agora vivenciando intimamente a destruição da biosfera. E, no entanto, nenhuma decisão significativa é tomada para lidar com essa catástrofe perfeitamente documentada. Como explicar que depois de mais de quarenta anos de advertências de todos os tipos, o acúmulo de dados científicos não conseguiu superar uma surdez tão triste? Quando nos dizem que ser ambientalmente responsável significa mercar um carro elétrico ou colocar painéis solares em sua casa, ou mercar alimentos orgânicos ou não comer carne, o que, aliás, são cousas boas de seu, deixamos de  preocupar-nos com políticas públicas que  serão necessárias. Enquanto isso, nada muda no modo de vida ecofascista; apenas a ilusão do capitalismo verde é reproduzida. Servidão Voluntária, neutra em carbono, disque: melhor não perguntar que uma deliberação aberta e informada. Porém, o que predomina é o pânico desejo de voltar às velhas proteções do Estado e ás prerrogativas de consumidor, mesmo que isso signifique eliminar “o Outro”. Talvez voltar ao normal seja o problema.

Textos citados

11.York, R. y P. Mancus (2009): “Critical Human Ecology: Historical Materialism and Natural Laws”, Sociological Theory, vol. 27, Nº 2, pp. 129-149.

12. Marx, K.; Engels, F., MEGA IV, 26. Berlín: Akademie Verlag. 2011, pp. 214-19. Ver también Joseph Beete Jukes, The Student’s Manual of Geology. Edinburgo: Adam and Charles Black. 1872, pp. 476-512; James Hansen, Storms of My Grandchildren. New York: Bloomsbury. 2009, p. 146.

13.Meszaros, I. (2016). A teoria da alienação em Marx. Boitempo.

14. Malm, A. (2020). The Progress of This Storm: Nature and Society in a Warming World (Reprint edition). Verso). Bellamy Foster  publicou este ano The Return of Nature (2022) e Capitalism in the Anthropocene (2022). 

15. Marx’s Theory of Metabolic Rift: Classical Foundations for Environmental Sociology. American Journal of Sociology, 105(2), 366-405. https://doi.org/10.1086/210315)

16. Feix, Plínio José (2012) «O Pensamento Marxista no Projeto Político dos Dirigentes do MST» Universidade de Campinas (UNICAMP).

17.Brand, U., Muraca, B., Pineault, É., Sahakian, M., Schaffartzik, A., Novy, A., Streissler, C., Haberl, H., Asara, V., Dietz, K., Lang, M., Kothari, A., Smith, T., Spash, C., Brad, A., Pichler, M., Plank, C., Velegrakis, G., Jahn, T., … Görg, C. (2021). From planetary to societal boundaries: An argument for collectively defined self-limitation. Sustainability: Science, Practice and Policy, 17(1), 264–291. https://doi.org/10.1080/15487733.2021.1940754

18.Harribey, Jean-Marie (2013) La richesse, la valeur et l’inestimable : fondements d’une critique socio-écologique de l’économie capitaliste. Paris: Éd. les Liens qui libèrent, http://harribey.u-bordeaux.fr/travaux/ouvrages/livre-richesse-entier.pdf

19. Marx, Karl. O capital: livro 1: crítica da economia política: o processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2013.

20.Bensaïd, D., & Fonseca, N. (2013). Marx—Manual de instruções (1a edição). Boitempo.“Marx não é um anjo verde, um pioneiro da ecologia que desconhece a si mesmo. No entanto, embora compartilhe frequentemente o entusiasmo produtivista do seu tempo, não adere sem reservas às ilusões do progresso”.

21.Marx, Karl. Crítica do programa de Gotha. São Paulo: Boitempo, 2012. Precisamente “porque o trabalho é a fonte de toda a riqueza, ninguém na sociedade pode apropriar riqueza que não seja fruto do trabalho. Se, portanto, ele mesmo não trabalha, então vive do trabalho alheio e apropria sua cultura também à custa do trabalho alheio”.

22.Marx, Karl. O capital: Livro III, tomo 2, vol. V. São Paulo: Nova Cultural, 1988.

23. Löwy, Michael. “Marx, productiviste ou précurseur de l’écologie?” L’Humanité, v.Hors-Série, n. Marx-le Coup de Jeune, p. 58–61, 2018.

24. Marx, Karl.  “Introducción a la crítica de la Economía Política”, Contribución a la crítica de la Economía Política, México, Siglo XXI.

25 European Diplomatic Academy: Opening remarks by High Representative Josep Borrell at the inauguration of the pilot programme https://www.eeas.europa.eu/eeas/european-diplomatic-academy-opening-remarks-high-representative-josep-borrell-inauguration_en

26.Kagan, .Robert. Paradise and Power: America and Europe in the New World Order (New York: Alfred A. Knopf, 2003). p. 91.

 

 

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