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Globalização, Meio ambiente, Opinião, Pensamento, Politica internacional — 10 Decembro, 2019 at 1:46 p.m.

O chamam de mudança climática, mas é capitalismo

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Lume en Baiona na vaga de incendios forestais de 2017 en Galicia.15 /11/ 2017, 08:51:50 Autor: Noel Feans Atribución 2.0 Xenérica (CC BY 2.0)

Embora o senso comum pós-colonial o transmita de forma concisa, às vezes o óbvio deve ser repetido para ter algum efeito. Porque os cidadãos ricos poluem mais do que os pobres e os países ricos poluem mais do que os países pobres. São os países do Sul e as comunidades mais desfavorecidas em geral que já sofrem os efeitos da crise climática, que não é outra senão a do próprio capitalismo global. É óbvio o relacionamento  próximo entre desigualdade e crise climática. Essa profunda inter-relação entre o abismo econômico e social que separa o norte do sul e o impacto do aquecimento global é o que nesta segunda-feira colocou sobre a mesa a ativista climática sueca Greta Thunberg, que em sua condição de estrela da mídia consegue direcionar os surtos para aqueles questões que mais lhe interessam, acompanhada por ativistas de países tão diversos quanto as Ilhas Marshall, Uganda, Filipinas, Rússia, Chile e Estados Unidos, que chamaram a atenção para os efeitos que a crise climática já está causando em seus países.Grupos como Sustain Us e representantes das comunidades indígenas dos Estados Unidos, por meio de ativistas indígenas do Chile, explicaram suas experiências, contra Donald Trump no primeiro, contra o governo de Sebastián Piñera no segundo. Esses jovens vêem como seus ecossistemas sofrem um forte revés e como eventos climáticos extremos castigam cada vez mais seus campos e cidades. A mensagem que lançam é muito clara: quem polui mais tem mais responsabilidade na crise climática e, portanto, é obrigado a fazer mais esforços para detê-la. Ao mesmo tempo, foi publicado um relatório da Intermón Oxfam que soergue esta tese. Segundo o estudo, os 10% mais ricos do planeta emite 50% das emissões de poluentes na atmosfera. E se reduzirmos à poluição per capita, acontece que um cidadão espanhol, que vive em um país rico, expele 6,4 vezes mais CO2 na atmosfera do que um guatemalteco.

Em nível econômico, o capitalismo triunfou em todo o mundo e os países do Terceiro Mundo que agora crescem a um ritmo espetacular são os que o referendam. Eis o único universalismo realmente existente, que rematou o seu desenvolvemento e que como sistema capitalista acabou determinando todas as condições de vida e  porque ele não tem problemas em se adaptar à pluralidade cultural do mundo, justamente quando ele não precisa  mais para funcionar aqueles valores ocidentais ligados ao legado emancipador (igualitarismo, direitos fundamentais e estado de bem-estar, mas também o exame crítico da violência e exploração). O capitalismo global já funciona com a versão autoritária da modernidade insuficiente. Já serve com isso. Enquanto  a  mudança de paradigma da economia de emissão zero  deve integrar a perspectiva da justiça social e a liberdade, priorizando a ajuda aos países que estão em uma situação de extrema fragilidade diante de uma situação que não causaram, não é menos óbvio que, com frequência, o igualitarismo e a liberdade, na óptica da luta anticolonial, acabam sendo assimilados à livre empresa, ou à forma de acumulação de capital impulsionada pelos empreendedores. Nada além do capitalismo global localizado em todo lugar. Então, talvez vale a pena lembrar o primado da “luta de classe” sobre outras lutas. O alcance global do capitalismo baseia-se em sua maneira de introduzir uma divisão radical de classes em todo o mundo, separando aqueles que são protegidos pelo que Sloterdijk chama de “esfera” daqueles de fora.

«É preciso salientar que as sociedades de consumo são as principais responsáveis pela atroz destruição do meio ambiente. Elas nasceram das antigas metrópoles coloniais e de políticas imperiais que, por sua vez, engendraram o atraso e a pobreza que hoje açoitam a imensa maioria da humanidade. Com apenas 20% da população mundial, elas consomem as duas terceiras partes dos metais e as três quartas partes da energia que é produzida no mundo. Envenenaram mares e rios, contaminaram o ar, enfraqueceram e perfuraram a camada de ozônio, saturaram a atmosfera de gases que alteram as condições climáticas com efeitos catastróficos que já começamos a padecer»

O texto acima faz parte do discurso do Fidel Castro na Conferèncias das Naçoes Unidas sobre o Meio Ambiente e o  Desenvolvimento (ECO 92 ) e reficte uma posição muito mais avançada do que a dos “ambientistas” da atualidade. A “revolução ecológica” deve esteve ligada diretamente a mudanças econômicas e sociais agudas na ordem política global.

Os cayucos, os ataques terroristas e as ondas de refugiados que fogem da seca e da fome nos lembram a violência fora da esfera, mas que aparece nas notícias como se fossem invasões do que não faz parte da nossa realidade. É isso que a mudança climática mostra: que a ficção de que existe um ambiente seguro sob a cúpula caiu. Se o Norte deixar o Sul à sua sorte, se a fenda que separa os ricos dos pobres continuar a se agravar. O dever ético-político, chamado mudança climática, luta de classes ou emancipação pós-colonial, não é apenas tomarmos consciência do que está sob a esfera, mas assumir plenamente nossa responsabilidade pelos horrores do lado de fora.  planeta será não apenas insustentável do ponto de vista climático, mas também social e econômico. Porque as relações de exploração social e econômica são insustentáveis chegamos à insustentabilidade do planeta do ponto de vista climático, mas permanecer no que não é sustentável só intensificará a falência social e econômica.

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