off

‘La Voz’, a sentença e a unidade de destino no irracional

by

A imprensa internacional sublinha a dureza das sentenças, ao contrário da caverna galega. Luís Pousa, xefe de opinión de La Voz, escreve sobre a sentença  e acredita que ” Junqueras ha luchado hasta el último momento por ser ese rostro bondadoso  y casi seráfico del supremacismo catalán”.  Em uma coluna do mês de abril, ele disse sobre Lluís Llach que “o cantor está se escondendo atrás de seu ” estado geriátrico” para vender uma imagem pacifista”. Não podemos pedir muito a alguém quando ele persiste em usar argumentos caldeirada. Nem se pode esperar mais de quem espeta a respeito de Junqueras que “como un “buen cristiano” incluso ha recurrido a las lágrimas ante los micrófonos  para edulcorar un discurso excluyente  y xenófobo  que difícil podrá encajar con el sermón de la montaña”. Nem posso culpar demais quem assim se expressa e recria a eito no ad hominem. Que paifoca arela de infringir derrota moral!  Eís a mania atávica da imprensa cavernaria a vazar a maior parte de sua opinião pela peneira do discurso de ódio e humilhação, o que acaba sugerindo um grande complexo.

Existem vários supremacismos, mas, acima de tudo, o das palavras e o dos atos. O primeiro é propaganda e é formulado com simplificações que podem ser ofensivas, porque uma característica de nosso  é formarmos tribos e nações, com características comuns e solidariedade interna; e essa cristalização em grupos étnicos, religiosos ou linguísticos, tão antiga quanto o mundo, gera contrastes e antagonismos. Mas há também uma face perversa, que é quando um determinado grupo se sente tão superior que decide discriminar, assediar ou exterminar diretamente um coletivo humano que considera estranho. Essa supremacia é a base dos regimes fascistas. Todos os regimes fascistas são supremacistas. Mas nem todos os nacionalismos são. Se chamar outros supremacistas também é supremacismo, os jornalistas devem ter cuidado no uso das palavras, por respeito aos nossos concidadãos, é também que a supremacia dos fatos é muito mais prejudicial e de efeitos mais duradouros. No final, grande parte do problema é a baixa auto-estima das instituições e da imprensa espanholas, na sequência de uma história cheia de lusco fuscos em que a democracia tem sido rara exceção. Não é a Constituição espanhola um exemplo de supremacismo linguístico? A perseguição do independentismo democrático basco, catalão e galego é supremacismo legal, e isso foi consagrado, não muito tempo atrás, pelo presidente Tribunal Supremo, quando disse que a unidade da Espanha é uma “fonte de lei”.

Há quem acredita ainda que o Constitucional define todas as aspirações legítimas da democracia dos espanhóis sob as cantinelas do  “Imperio de la ley”, “España es un democracia plena”, “No hay democracia fuera del estado de derecho”… Uma repetição compulsiva que também é muito eloquente. Mas eu me pergunto de que tipo de “democracia plena” falam quando temos que ir à imprensa internacional para poder ler o óbvio de que as sentenças de prisão são altas e desproporcionadas e  que surgiu um conflito que nunca deveria ter saído da política?

Causa pasmo o acolhimento acrítico do depoimento do ex-Secretário de Estado da Segurança e dos guardas civis perante o juiz Marchena ou quando nada é dito do recente discurso de Pedro Garrido, chefe da Guarda Civil da Catalunha, que se referiu aos detidos da operação Judas, acrescentando que sua captura “evitou maiores males” e associou-os e alertou aqueles que desejam seguir  o vieiro da independencia que se escolher “el camino del terror”  seran combatidos “sin pena ni tregua”. É uma mofa do segredo sumarial e um escarnio da presunção de inocência a que os membros das CDRs detidos têm direito. Escoitarmos um alto comando da polícia militar mofando da “revolução do sorriso” que, segundo ele, transformou-se em “ódio  y mezquindad” e aconchegou num suposto “caminho do terror” o 1º de outubro, os detidos o 23 de setembro passado e o que pode acontecer no futuro, sugere que para o redator de La Voz, que assina uma seção chamada A Fondo, não é preocupante que exista polícia ideológica e  testamenteiros uniformizados da essência da pátria. Porque  La Voz só tem aços para lhe tirar a máscara ao “buen cristiano” de Junqueras ou ao “abuelito del secesionismo” de Llach. Com a diferença de que estes não usam uniformes nem armas nem pescudam delitos. É o estilo caldeirada, pouco sutil, trapaceiro e pior argumentado, mas coa mesma arela de aventar tudo o que incomoda o statu quo para achantar a própria poltrona no sentido da historia do dia: em outro exercício de estilo ele ainda comparou o Artur Mas com o  Kurtz de Apocalipsis Now.  O bizarrismo intelectual deve focar-se políticamente, como epifenómeno “autoritario” do españolismo en crise. Caso contrário, é difícil de digerir supor que certos meios de comunicação da auto-proclamada “democracia plena” encontre motivos para recriar nas penas severas e não questione, no entanto, que se sedição requer violência da multidão e isso é reduzido a 20 de Setembro e 1 de Outubro de 2017, houve pouco tumulto. E mais uma coisa, se a guardia civil e a polícia não tivessem intervindo no dia do referendo do jeito que eles fizeram, como seria justificada a sedição?

Se a qualidade de uma democracia liberal é avaliada por sua capacidade de inclusão, é ilustrativo que a bem subsidiada imprensa regional alveje o discurso de Garrido e integre um partido de extrema dereita como o Vox do que um movimento democrático de amplo espectro, como o soberanismo. Embora o Tribunal desmonte a investigação do juiz Llarena, a investigação da Guarda Civil em que se baseou e a história retomada pela Fiscalia, declarando veementemente que não houve tentativa de golpe de estado, que em nenhum momento o sistema institucional estava em perigo e os acusados nunca acreditaram no que prometeram. Não é uma correção menor: pelo conteúdo desmonta o argumento central sobre o qual a mídia e a campanha política contra o Procés foram construídos ou as consequências ja que o pedido de rebelião foi decisivo para a prisão preventiva. Mesmo assim, o Tribunal optou por aplicar longas penas por sedição. E o faz com um argumento que xera preocupação e dessassosego antecipado porque, como sendo um julgamento com valor jurisprudencial, dá uma carta da natureza a um crime considerado obsoleto, e, portanto, abre seu uso em casos de manifestações e  desordens públicas, com consequências preocupantes sobre os dereitos fundamentais.

Algums pensam que é normal que as pessoas sejam sentenciadas à prisão por terem tentado realizar suas idéias pacificamente e cumprir as promessas que fizeram aos cidadãos que as escolheram precisamente para as levar a cabo e por uma ampla maioria democrática. E há quem pense que isso não é normal. Quem achar normal, tentará que nos meses por vir haverá uma miragem de normalidade. Que tudo seja o mesmo de sempre, e com essas pessoas na prisão. E quem não acha normal tem o direito de negar essa miragem da normalidade e demonstrar de maneira permanente, pacífica e visível que essa suposta normalidade não existe. Portanto, como deveria axir democracia espanhola? A espasmos de repressão policial, criminalização política e censura? Como Sánchez e a dereita espanhola,  meios de comunicação hegemônicos também deixaram claro que apenas entendem o conflito em termos de derrota do independentismo.

Estamos entrando em uma xeira na qual as  condições de repressão institucional e de corrupção legitimada  que achamos no País Basco se estendem na Catalunha. Cortina de fumaça prática, fio entre a miséria do sangue e os lugares onde a repressão é incentivada, ambos os dois servindo à desativação de qualquer desejo de acesso ao poder de quem fica a marge ou sofre seus efeitos perversos. O que está acontecendo é muito sério para olharmos para outro lado como se nada estivesse acontecendo. Estamos diante de um Estado espanhol paranóico, incapaz de achantar qualquer crítica, sem questionar suas formas de funcionamento e sem re-articular seu governo. É mesmo inimaginável que, apesar de não poder ser acusado de rebelião e seja evidente para todos que a organização do referendo tenha sido totalmente pacífica, eles tenham solicitado sentenças de prisão muito altas para aqueles que ocupavam posições políticas.

No caso de pessoas sem responsabilidades políticas, as sanções exigidas são injustificáveis ​​e constituem uma punição e um escárnio público  para qualquer iniciativa social e cultural associada ao soberanismo mas também a qualquer poética de mudança política. Essas sentenças afetam diretamente a todos aqueles que representam a sociedade civil, que trabalham formas e promesas, como acreditaba Foucault, aquém e além Catalunha . O cenário social catalão traz  sinais  que era desejável esperar e que ainda não expressou todo o seu potencial. A situação é grave o suficiente para que os tribunais espanhóis se dissolvam e que o Parlamento seja libertado do controle eleitoral e ideológico de políticos incapazes de aceitar a realidade do independentismo e o límite do legalismo ideológico?

Ainda hoje continuamos a sofrer a influência ativa da divisão entre aqueles que  digeriram Franco e os que anseiam por um trabalho que começou dessa maneira a ser prolongado, até mesmo terminando, em uma onda de júbilo.  Interceptados em pleno vôo pelo fogo preciso e claro dos poderes políticos após o desaparecimento de Franco, cujas idéias recicladas e disfarçadas são forçadas a pensar em relação a esses eventos e a considerá-las e aprofundá-las enquanto coagulam contra nossos olhos como um novo pensamento reacionário, fazer como se nada tivesse acontecido e descobrir-se impelido ao campo dos antigos simplesmente por não ter optado pelo dos modernos.

O processo catalão aventa essas coagulações franquistas do presente, mas para servir como um vento purificador que obriga alguns e outros é preciso un novo contrato social, entre aqueles que consideram o presente uma oportunidade de elaborar um pensamento que também será valioso amanhã e aqueles que, no momento em que escrevem o que acontece, fazem um gesto etimologicamente reacionário, porque veem a salvação na repetição e celebração dos valores autoritários do passado no presente, nos quais acochengam em seus lares com o tropismo de animais escorrentados. Alguns querem modernidade e o que é inerente à ética, política e cultura; os outros, comungam no mantra niilista apoiado pela religião da decadência feita Lei.

O contrato social assinado com a morte de Franco e suas promessas de democratização fracassaram. Precisamos de um novo contrato  e perguntamos coletivamente se queremos ser governados como súbditos ou se, além da superfície do xabre, o perfil  de novas figuras podem ser traçadas com o dedo febril de individuos soberanos.

One Comment

  1. La Voz Minte… Coma todos eses “axentes democráticos” que pastorearon a Transacción. Tempo de traballar.

Grazas por leres e colaborares no Ollaparo !

Este sitio emprega Akismet para reducir o spam. Aprende como se procesan os datos dos teus comentarios.

off