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Ciencia, Ecoloxía, Entrevistas, Meio ambiente — 23 Marzo, 2022 at 9:41 a.m.

Antonio Turiel: “Se agir contra a Rússia, a crise de 1929 parecerá uma brincadeira”

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A Rússia fornece 45% de todo o gás consumido na Europa. Embora a UE se gabar de querer reduzir essa dependência em dous terços, os especialistas desconfiam dessa promessa. Em 8 de março, o Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, colocou a responsabilidade nas costas dos consumidores e pediu a todos em sua casa que reduzissem o aquecimento. todo isso enquanto o preço do gás está fora de control e arrasta o preço da eletricidade. Esta situação desesperadora é agravada por um esgotamento galopante de combustíveis fósseis que complica a loita geopolítica. Antonio Turiel, doutor em física teórica e pesquisador do Instituto de Ciências Marinhas do CSIC, há anos alerta para a crise energética e vê pouca margem de manobra em relação à dependência russa. Também conversamos com ele sobre a transição energética e explica por que acha que é um projeto fracassado desde o início.

Fonte CC : Josep Rexach Fumanya para o Vilaweb

— A Europa pode sobreviver sem gás russo?
— Não sem gás russo. O gás tem um transporte moi complicado. Implica logística de transporte que exige plantas de liquefação na origem, navios metaneiros e plantas de regaseificação. Todo isso cria gargalos e torna o gás moito mais caro. Portanto, interessa-che ser conectado por terra cum gasoduto, como é o caso da Rússia. É mais barato e tem moita mais capacidade, pois permite transportar mais quantidade com mais facilidade. É por isso que a Europa não pode prescindir do gás russo. Se não o fixesse, quebraria financeiramente.

—Bem, a UE di que quer reduzir o consumo em dous terços.
—Reduzir o consumo de gás russo em 66% pode significar uma crise econômica de grandes proporções. É muito engraçado, porque dizem que vão reduzir as importações da Rússia e fica a ideia implícita de que vão substituir por importações de outros lugares. Mas essa quantia não pode ser trazida de nenhum outro lugar. Uma pequena parte pode ser fornecida, mas não todas. Inconscientemente, prepara-se uma diminuição e uma redução drástica do consumo.

—Josep Borrell já pediu aos europeus que baixem o aquecimento. A diminuição é positiva?
“Existem duas maneiras de fazer isso. Um planejado e o outro bagunçado e caótico. A chave aqui é como a carga de decrescimento será distribuída. De forma justa e planejando o que fazer a seguir, ou de forma injusta cobrando dos consumidores? Já sabemos o que vai acontecer.

—Nessa situação, os grandes beneficiários podem ser os Estados Unidos, porque a Europa terá que comprar mais gás liquefeito.
“Há uma parte desse raciocínio que é verdade. Os EUA por muitos anos tiveram produção excessiva de gás e exportaram muito. O problema é que o gás liquefeito exige maior logística, o que encarece o produto final. Mas há outra questão que não está sendo suficientemente abordada: os EUA já estão atingindo o pico de produção de gás. Em 2023 veremos um declínio, principalmente na produção de gás devido ao fracking. Certamente, os EUA alimentaram a guerra com a ideia de vender mais gás, mas o fazem com uma visão de curto prazo porque agora pode trazer benefícios. No entanto, em breve eles deixarão de ter excesso de gás.

— Por que o preço do gás continua subindo se a Europa não dispensou o gás da Rússia?
— Há dous fatores que influenciam. Por um lado, um problema estrutural que herdamos do ano passado: a falta de gás. E tem a ver com o fato de que a produção de gás na Rússia está estagnada há vinte anos, a da Argélia também, e a da Europa vem caindo há anos. Portanto, custa cada vez mais nos fornecer gás e quanto mais custa, mais caro é. O processo é lento, inexorável e tem a ver com o esgotamento dos depósitos de gás; é uma realidade geológica. O segundo fator é a incerteza, a eclosão da guerra e a decisão dos EUA de não comprar mais petrpetróleo e gás russos, o que provocou pânico no mercado e um efeito especulativo.

O preço desses fertilizantes cresceu muito, assim como o diesel, e o panorama que se vê é de escassez

—Que efeitos colaterais tem o aumento do preço do gás?

—Um problema que temos há meses e que não se fala é o dos fertilizantes, que podem causar uma crise alimentar em grande escala. Os fertilizantes são feitos com gás natural. As fábricas da Fertiberia na Espanha interromperam a produção porque o gás era muito caro. E não reabriram 100% porque a compra da produção não estava garantida. Os camponeses estão preocupados porque o preço desses fertilizantes cresceu muito, assim como o diesel, e o panorama que se vê é de escassez de fertilizantes em todos os lugares. Isso também afeta as indústrias de vidro, cerâmica, cimento e química, que necessitam de gás. E indústrias como a siderúrgica não dependem do gás, mas sim da eletricidade, e o aumento de preços também os afeta. Estamos indo para um grande ‘smack’.

Vamos falar sobre eletricidade. O gás é o principal responsável pelo aumento do preço da eletricidade?
-Sim. O problema está aqui. Anos atrás, alguns senhores economistas diziam que o melhor sistema de fixação do preço da eletricidade era baseado no preço do último quilowatt/hora que entrasse em um determinado momento. É um leilão. Red Eléctrica Española pergunta quem pode produzir eletricidade. Os geradores oferecem os quilowatts-hora que podem oferecer a um preço. Os mais baratos são comprados primeiro e depois os mais caros são levados, até chegar o último. E este último, o mais caro que entra, é o que define o preço de todo. Isso é feito assim porque alguns senhores economistas acreditavam que com esse sistema dito “marginalista”, a introdução de novas tecnologias e fontes de energia seria incentivada. Mas acontece que a física não tem a mesma opinião e novas tecnologias não aparecem, possivelmente porque não existem, nem novas fontes de energia, porque não existem. Com este sistema, que é obrigatório em toda a UE, acontece que cada vez que a eletricidade é produzida com gás, mesmo que seja muito pouco, acaba por definir o preço de todo. E pagas por toda a eletricidade ao preço muito caro do gás.

A Europa precisa de alterar os preços e dissociar o preço da eletricidade do preço do gás

— Pagamos a eletricidade ao preço do gás, então.
-Sim. É como se  fosses ao verdureiro e pedisse um quilo de cenoura que custa um euro o quilo; um quilo de maçãs que custam 1,5 euros o quilo; um quilo de abobrinha, que custa 0,80 o quilo; e, finalmente,  pides um pouco de açafrão. Mas o açafrão vai para 45.000 euros por quilo. Mas  tomas apenas um grama. No total, mercas três quilos de legumes e um grama de açafrão, e eles cobram por todo pelo preço do açafrão.

-Que salto deu o preço do gás?

-O gás teve um aumento espetacular. Hoje pagas 200 euros por megawatio hora, e há apenas dous anos o preço normal era de cerca de 20 euros. Em dous anos, o preço se multiplicou exponencialmente. É por isso que a Europa tem de alterar os preços e dissociar o preço da electricidade do preço do gás. Essa mudança terá que ser feita porque senão a Europa vai quebrar, e desnecessariamente. No final, é uma questão de regulamentos e pode ser alterado.

Se tentarmos agir contra a Rússia, automaticamente mergulhamos o mundo numa crise econômica

 

— No caso do petróleo, a Europa também está amarrada como no caso do gás?

— Com petróleo é diferente. Às vezes foram impostas sanções, que parecem muito boas para a galeria, mas têm muito pouco efeito. Porque o petróleo é muito fungível. Agora  para de mercar petrpetróleo na Rússia, mas a Rússia venderá na China ou em outros países. Então, quem forneceu a China e outros países não terá comprador e venderá para nós. Quer dizer, que o petrpetróleo vai dar mais voltas e vai ter que ir mais longe; portanto, será mais caro. Mas no final o efeito não será tão grande. Onde a Europa e o mundo estão presos é por causa do gás. É aqui que ele pode causar mais danos. Mas é que a Rússia produz um terço do urânio enriquecido do mundo, que também é usado nas usinas nucleares americanas; os EUA importam minério de ferro da Rússia; A Rússia também controla a produção mundial de níquel e outros metais críticos. É simplesmente impensável. Se  tentares agir contra a Rússia,  automaticamente mergulhas o mundo numa crise econômica. E junto a esta crise a de 1929 parecerá uma piada.

-Caramba…
— É assim agora, com o grau de dependência que existe. Há muita retórica, haverá muito discurso na frente da galeria, mas todos sabem que, se forçarmos demais, todos nos machucaremos.

— E como se isso não bastasse, há uma crescente escassez de combustíveis fósseis. Quando podemos ficar sem petrpetróleo?
-Nunca. Este é um ponto-chave que deve ser entendido para não gerar confusão. Temos uma visão do azeite como o vinho dum bocoi. Abres a torneira e ela flui até acabar. Mas não funciona assim. O petróleo ocupa os intestinos e os buracos de uma rocha que é porosa e, quando pressionada, jorra. À medida que extrai, a rocha fecha, esborralha e sai cada vez menos. Podes extrair mais furando outro buraco, praticando fraturamento, injetando água ou gás pressurizado… Mas no final, em média, de todo na rocha, apenas um terço vem à superfície. dous terços deles estão tão espalhados na rocha que não compensa extraí-los. Então, o problema não é quando a última gota é extraída, porque em alguns séculos ainda será possível extrair petróleo. A questão é quanto pode ser extraído a cada dia. Não me importa se tenho dous milhões de euros no banco, se só posso sacar dez euros todos os dias. Podo ser um milionário em potencial, mas son moi pobre. Portanto, a extração deve ser rentável.

—Hoje coloquei gasolina 95 a 1,8 o litro, e a 98 valia quase 2 euros…
“Aqui está o ponto. O petrpetróleo já começou a cair. 2018 atingiu o pico e nunca mais se recuperará, porque as petrolíferas já estão desinvestindo. Eles fazem isso muito rapidamente, assim como acontece com o capitalismo. Porque o capitalismo só tem duas modas: complacência e pânico. E é por isso que a Agência Internacional de Energia alerta que a produção de petrpetróleo em 2025, em relação a 2018, pode cair 50%. É um selvagem.

— E enquanto isso, não teremos feito nenhuma transição energética.
-Mas é impossível. É a outra perna da questão. Fala-se da transição energética como solução e não é possível. E é conhecido.

— Por que?
— Porque depende de muitos materiais que não temos. O principal problema com a transição energética para as energias renováveis ​​é que requer grandes quantidades de petrpetróleo. Porque muito material tem que ser extraído, as coisas têm que ser fabricadas, têm que ser instaladas… Alguém acha que uma turbina eólica foi feita sem petróleo? Não, é feito com betoneiras e o cimento é feito com gás natural, o aço é feito com carvão e todo isso é transportado com maquinário pesado que precisa de gasolina.

—Em outras palavras, há energias renováveis ​​que não podem substituir o petrpetróleo.
—O problema é que o sistema de produção renovável que estamos discutindo precisa de grandes quantidades de combustíveis fósseis e, além disso, de materiais que não são abundantes no planeta. Precisas de telúrio e prata para conectores de placas fotovoltaicas,  precisas de alumínio para turbinas eólicas… Precisas de cousas que não são abundantes e nem todos podem pagar porque não há o suficiente para todos. É um projeto fracassado desde o início. Além disso, concentra-se muito na produção de eletricidade, mas…  sabias que na Catalunha a eletricidade é apenas um quarto da energia final consumida?

-E outros?
—Petróleo, gás, carvão e outros. E esses 75% de energia são difíceis de eletrificar. Podes aumentar o percentual de consumo de eletricidade em até 30% ou 40%, mas haverá 60% que vai resistir-te . E vai resistir-te moito. E agora eles querem deslumbrar-nos com carros elétricos, mas é sabido que isso não pode ser feito.

-E então?
Bem, estamos indo para o colapso.

-Mas não podemos fazer nada?
— Vejamos, este modelo de transição energética foi proposto para manter o capitalismo. Este modelo de energias renováveis ​​é o único compatível com a salvaguarda dos interesses dos grandes capitalistas. E isso nos leva ao desastre. Porque essa transição possibilita criar grandes quantidades de energia concentrada para evitar que empresas e oligopólios ganhem muito dinheiro. É por isso que este modelo é defendido. Mas não é o único modelo renovável que existe.

-E o que mais há?

— Aquelas que implicariam uma mudança de paradigma. Podemos ter um padrão de vida semelhante ao de hoje consumindo um décimo da energia e dos materiais que consumimos hoje. E existem vários estodos que comprovam isso. A guerra é uma mensagem muito clara e muito forte de que temos que mudar nosso modelo de vida e nosso modelo de consumo. Não podemos depender tanto de países onde os direitos humanos são uma coisa opcional. Temos que repensar nosso modo de vida e direcioná-lo para uma economia mais local, mais resiliente e que garanta a produção local de alimentos. E isso já está feito, porque o problema dessa mudança não é técnico, mas social. Temos que abandonar o capitalismo, porque se não vês-te obrigado a negociar com assassinos e tiranos. E se não fixer isso, o modelo também vai acabar porque os recursos do planeta estão diminuindo.

—Por que a Catalunha está tão atrasada na construção de infraestruturas que geram energia renovável?
—Em primeiro lugar, para salientar que nos últimos anos tivemos governos de direita no Estado espanhol que foram hostis a todo o que tinha a ver com energias renováveis. Só precisas lembrar do imposto solar. Agora vimos que há um grande problema com a energia fóssil e com a desculpa das mudanças climáticas estamos fazendo essa transição precipitada e desordenada em todo o Estado. O feito é que na Catalunha a legislação é mais garantidora e tenta evitar os excessos que se fazem em outros lugares. Não se deixe enganar, a maioria dos promotores de energias renováveis ​​que são feitos na Espanha são essencialmente uma burbulha de tijolo 2.0.

-Que queres dizer?
— Será construídomoito, mas o rendimento será moi baixo. Entre outras razões porque não se sabe como essa eletricidade será usada. Ele acha que o consumo de eletricidade no Estado espanhol diminuiu desde 2008. Teoricamente, todo o que já deveríamos ter para aproveitar melhor essa eletricidade, como os milhões de carros elétricos ou os sistemas de hidrogênio verde, não estão lá. E não são porque são caros e porque não há material suficiente para permitir uma implantação na escala que seria pretendida.

Fonte Creative Commons: Publicado por Josep Rexach Fumanya para o Vilaweb

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