off
COVID-19, Galiza, Opinião, Politica espanhola — 16 Marzo, 2020 at 10:57 a.m.

Quem somos todos em relação ao COVID-19?

by

Afirma Pedro Sánchez que Madrid comanda acima de todos por mor do COVID-19, incluindo a Xunta de Feijoó que só quer o autogoverno para deixarmos de ter autogoverno. Causa pasmo. O argumento que ele usa é mesmo bom: o vírus não entende fronteiras e todos temos que ir a uma.

Seria uma lógica indiscutível anunciar que o governo espanhol renuncia a seus poderes em favor de uma única autoridade européia  ou planetaria. Mas se o vírus não enxergar de eidos, leiras, fronteiras ou territórios, não são território as autonomias e o estado, as bisbarras, os bairros, os concelhos,  e a república dependente da minha casa? (por certo, hoje as 00.00h as fronteiras terrestres da Espanha serão fechadas, encanto a UE está debatendo o fechamento de suas fronteiras externas, o que já faz com os refugiados)

Se todos devemos  unir-nos, afirma, quem somos todos? Os galegos, os portugueses, os espanhóis, os chineses, os europeus, os humanos? Dizer que a unidade natural é a Espanha e o resto não faz sentido é mesmo uma besteira. Um vizinho de São Genjo está a  600 quilómetros de Madrid e Pòvoa de Varzim a 165. Mas contra um vírus que não entende os territórios, ao  sangenjino  achanta ao que mora a 600 quilômetros de distância e nada sabe do de Varzim e mesmo do da Póvoa de Brolhão. Trata-se de tratar da mesma forma o que é diferente? É por isso que mais de 50% dos casos estão em Madrid e a maioria dos que temos na Galiza tem sua origem lá, porque não foram datados a tempo?. A responsabilidade não é apenas cousa dos governos. Certamente, uma sociedade não infantilizada não precisaria ser avisada da contraproducência de apanhar o carro para ir à casa da praia e passear despois pelos peiraos e supermercados.

Unidade? Madía-Leva! Mas, acima de todas as fronteiras, não apenas acima daquelas que interessam ao momento por instrumentalização política, para que nada se mova ou questione sob pretexto de salvar-nos. E se não houver um comando europeu único, que aqueles que estão mais próximos das pessoas e as cousas governem. Coordenação geral, decisão local e apoio mútuo.

Coordenação geral. É especialmente impressionante ouvir soluções fáceis para um problema que, em janeiro, quando o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Thedros Adhanom, o descreveu como um problema universal de saúde pública, não prestaram atenção. É mesmo difícil enxegar que, para enfrentar a crise de saúde por disseminação do coronavírus, a arquitetura organizacional autonômica básica é interrompida e as funções e competências de cada território são retiradas das autoridades competentes. Alguém ainda pode acreditar que enfrentarmos o desastre vindouro é suficiente com a resposta do Estado sem uma resposta cidadão abaixo e européia no topo para gerienciar as consequências econômicas e sociais que já estão se manifestando e aquelas que se seguirão? Pessoas em situação de exclusão e vulnerabilidade social fazem parte dos três grupos de risco (idosos e patologias anteriores); que aconteceu com as cozinhas da sopa? elas ainda estão abertas? sob que condições a gente que mora na rua? precisam de voluntários?

Decisão local. Alguns de nós teriam gostado  de ouvir no discurso de Sánchez  expressões de reconhecimento da situação e do trabalho realizado pelos governos descentralizados, as autonomias, os concelhos, as associações… Gostaria que outros participaram no escrito do decreto estabelecendo o estado de alerta, com a participação de outras administrações. Teria gostado que o Presidente da Xunta de Galicia  agira como se for do Conselho da Galiza, com mais velocidade na realização de testes específicos para determinar a infecção pelo vírus SARS-CoV-2 há algumas semanas, e não a reboque, quando solicitado pelo governo da Espanha. Que não houver pedido o fechamento de fronteiras com Portugal quando não disse nada sobre a caminhada pelas vilas costeiras de população inconscente de estar a espalhar o andazo.

Sabemos que não poderia ter sido evitada a epidèmia, mas podemos achaiar a curva para podermos ser capazes de gerenciá-la não apenas do ponto de vista da saúde, mas também socialmente. Deixemos aqueles que sabem e a razão médica, que é como as pessoas se curam. Agora bem, é responsabilidade dos governos prever e aliviar o desastre social que está chegando sobre nós e não apelo à unidade e ao patriotismo que valham a pena. E isso não é alvo para  epidemiologistas mas uma responsabilidade do governo espanhol, da Xunta e dos governos locais. Porque a pesar do alarme decretado em todo o estado pela pandemia de coronavírus, nada mudou nos metrôs de Barcelona e Madrid. E esse presenteísmo na rua tem a ver com a falta de certeza na resposta econômica, tem a ver com não saber o que os estados estão dispostos a fazer pelos trabalhadores e pelos autónomos (quando a crise financeira o estado injetou bilhões nos bancos). Para gerenciar essa crise de saúde, não basta a apelar para a responsabilidade individual sem que as pessoas saibam quais consequências resultarão de faltar ao trabalho. O que pode acontecer comigo se eu não for trabalhar?  Médicos e enfermeiros não são heróis, mas profissionais que devem conhecer claramente suas condições de trabalho, como outros profissionais e trabalhadores em geral. As administrações estão realmente dispostas a intervir?

Não há nada pior, não há maior perda de credibilidade e autoridade do que ditar regras que não são seguidas, especialmente quando há risco vital, o que se nos oferece é a BRILAT e a UME pelas ruas. Para gerenciar o confinamento, uma medida de saúde, precisamos de uma resposta ex ante e a nível europeu para gerenciar as conseqüências sociais e econômicas. Imagens de transportes públicos lotados para trabalhar na manhã da segunda-feira são a melhor evidência do fracasso do decreto do governo do PSOE da noite de sábado. Um estado de alarma que prioriza a centralização de competências á eficiência de cuidados de saúde, na luta contra o coronavírus, já que uma crise sanitària dessa magnitude não é apenas uma crise de saúde. O princípio da subsidiariedade afirma que, quanto mais próxima os cidadãos a administração que presta o serviço, mais eficaz ela é.Se não puder ser evitado – a curva epidêmica não pode ser cortada, afirman os expertos, só pode ser achatada para evitar picos críticos, mesmo que a doença seja prolongada no tempo- a visão deve ser  necessariamente abrangente.

Oportunidade. As decisões que contradizem a tendência natural dos seres humanos são difíceis de aplicar. Somos gregários e não sabemos viver isolados. Houve de ser uma pandemia que nos tornara conscientes de que os cuidados de saúde universal e os serviços sociais são alguns bens essenciais não apenas quando a doença mostra os dentes. Os apelos ao patriotismo, á unidade e á responsabilidade individual foram usados para um protecionismo opaco, que está  tornando cada vez mais visibel que não foram capazes de antecipar que são as medidas sociais e econômicas que permitem uma melhor resposta sanitária da contenção  em fase de contàgio comunitàrio (faltam testes detecção e reativos) apesar do que sabíamos sobre a China e a Coréia do Sul (onde 100.000 testes foram realizados diariamente para detectar o coronavírus).

Porém, uma situação excepcional, que nos coloca em risco como espécie (como as mudanças climáticas) também nos oferece oportunidades – no país dos profetas que se abraçam ao  “como eu já disse” e a teatralidade histérica de não levar as coisas a sério –  como a valorização dos direitos dos trabalhadores, os de emergência, a ajuda mútua etc. Irrita muito quando todos eles são alcumados de  heróis como fez Pedro Sánchez no seu discurso. Insisto, todos eles, devem ter condições de trabalho claras e decentes e cobrar a fin de mes e trabalhar com garantias de segurança. En fin, abafa que olhemos  para o ceu quando há quem diga -apenas alguns meses atrás- que os gastos em saúde são um desbalde.

Grazas por leres e colaborares no Ollaparo !

Este sitio emprega Akismet para reducir o spam. Aprende como se procesan os datos dos teus comentarios.

off