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América, Politica internacional — 1 Setembro, 2016 at 7:43 a.m.

Dilma Rousseff: ‘Não esperem de mim o obsequioso silêncio dos covardes’

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O Senado brasileiro votou ontem a demissão  do primeira Presidente da República do Brasil, Dilma Rousseff, por 61 votos a favor, 20 contra e nenhuma abstenção 


Foto: Dilma Roussef/ Facebook
Foto: Dilma Rousseff/ Facebook

Na mesma reunião foi nomeado automaticamente o antigo vice-presidente e presidente interino até agora, Michel Temer.

O Senado, dominado pelo centro e a direita politica, não condenou Rousseff por corrupção , mas por uma prática contabilística habitual conhecida como pedalada fiscal que consiste em utilizar os fundos dos bancos públicos, em vez do Tesouro para financiar diversos programas agrícolas sociais. Dito de outra forma, a lacuna que permitiu dar um embrulho “legal” para o impeachment. A acusação central face Rousseff no Congresso foi que ela violou as regras fiscais, maquiando o déficit orçamentário. E isso causou uma grande fenda no Brasil, separando aqueles que acreditavam que seria justo removê-la, dos que argumentan que seria uma injustiça ou mesmo um golpe.

“Venho para olhar diretamente nos olhos de vossas excelências e dizer que não tenho nada a esconder” afirmou Dilma Rousseff   ao abrir o seu discurso de defesa.

Para o Senado é um crime fiscal, que foi realizado sem a aprovação do Congresso, enquanto que para Dilma, que nunca tem sido reconhecido  por ela como uma infracção fiscal é um golpe do Partido do Movimento Democrático Brasileiro ( PMDB), o partido do Temer, tentando ganhar representação na câmara o que não conseguiu nas eleições. Na verdade, o PMDB colocou três presidentes em trinta anos sem nunca ter vencido uma presidencial. Em seu apelo final na segunda-feira, Rousseff admitiu que sentiu o “gosto amargo da injustiça” e insistiu em sua inocência dizendo que o seu mandato se adere à Constituição: “Não luto pelo meu mandato por vaidade ou por apego ao poder, … Luto pela democracia, pela verdade e pela justiça”, acrescentou.

Um atentado contra os avanços sociais que o PT trouxe ao Brasil

Com a demissão da filha política do Lula, o Brasil dá uma guinada para a direita. Temer  se apresentou juntamente com a sua antecessora as eleições, mas em março deixou o governo. Mudando agora para políticas mais neoliberais e teve de lidar com a demissão de quatro ministros corruptos durante os primeiros 35 dias no cargo. Mas isso não foi suficiente para impedir a demissão de Dilma. Intelectuais brasileiros se mobilizaram contra o medo, mas isso não se traduziu em uma grande mobilização na rua. Os efeitos de uma crise econômica cada vez mais pronunciada e o longo processo de impeachment, partidos conservadores com a opinião pública dominante, criaram uma forte desmotivação dos eleitores do Partido dos Trabalhadores.No entanto, Temer já tem preparadas medidas destinadas pelo princípio de austeridade, como as alterações propostas para o sistema de pensões ou os cortes a serem aplicados às políticas sociais. A ideia é “reconfigurar” para baixo, pelo menos, cinco dos programas considerados emblemáticos dos petistas como o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Ciência sem Fronteiras, Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego e a transposição do Rio  São Francisco.

Juizo político e Rede Globo

Dilma Rousseff apresentouse diante do Senado para se pronunciar sobre o juízo político contra ela, num testemunho que não era obrigada a fazê-lo ( tinha o advogado defensor José Eduardo Cardozo), mas ela escolheu o cara a cara com aqueles que a julgam“por delitos de responsabilidade (de Estado) que não cometi (…), pois não tenho contas no exterior e não me enriqueci com dinheiro público”. Lembrou ter enfrentado com as armas a ditadura nos Anos 70 e quando enfrentou os olhares envergonhados dos juízes militares de um tribunal de exceção, que tapavam o rosto para não serem registrados por um fotógrafo.

Agora “não esperem de mim o obsequioso silêncio dos covardes diante daqueles que querem atentar contra a democracia (…) vou resistir para despertar as consciências adormecidas”, afirmou Dilma

O senador Lindbergh Farias, do Partido dos Trabalhadores (PT), acusou “a Rede Globo, que há três anos estava pedindo desculpas por apoiar a ditadura, e que agora embarca em outro golpe”.

“(…) em outros tempos, seria um delito apoiar a construção de Mariel. Depois que Obama visitou Cuba, hoje vemos que Mariel é um porto disputado por norte-americanos e europeus”, respostou Roussef aos senadores conservadores, o ruralista Ronaldo Caiado e o pastor evangélico Magno Malta

Demitida, mas não desativada
Buarque e Lula da Silva

Conforme relata Darío Pignotti para o Página/12 o “cantor e escritor Chico Buarque também viajou à Brasília para apoiar a presidente e a continuidade democrática. Ele assistiu a sessão das galerias, junto com Lula, Wagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e Guilherme Boulos, líder dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)”

Rousseff foi demitida, mas não desativada. ‘Esta história não acaba assim’, diz Dilma Rousseff em pronunciamento. As eleições presidenciais marcadas para 2018 poden abrir a porta para compensar esta injustiça.

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